quarta-feira, 8 de abril de 2009



REPORTAGEM DO EL PAIS
Arquitetura grande em frascos pequenos
A crise leva escritórios a reduzir a escala dos edifícios
Anatxu Zabalbeascoa 07/04/2009

Os próprios arquitetos anunciam o fim das estrelas mediáticas como resposta à conjuntura que nos envolve. No entanto, o desencanto ilumina outros astros que os recordes de altura, metros quadrados e cifras astronômicas, controlados por um reduzido grupo de profissionais na última década, quase não deixava ver. Assim, a crise está trazendo à luz o pequeno, o discreto e o trabalho delicado de muitos outros autores.

A idéia de realocar a grande arquitetura aos pequenos edifícios está começando a pegar na Espanha. Mas foi em Tóquio aonde se criou o apelativo nome de arquitetura mascote (pet architecture). Ali a falta de espaço, com ou sem crise econômica, faz parte do genius loci, define o lugar. Com a crise, no entanto, a escassez de metros soma-se à redução nos orçamentos.

O resultado disso pedia novas idéias. Um escritório jovem, Atelier Bow-Wow, começou nomeando o que teriam que fazer: as mascotes. Os edifícios com menos de 50 metros quadrados – sim, vocês leram bem: 50 metros quadrados – nos quais estrelas como Kazuyo Sejima souberam projetar residências com pátios e dormitórios de menos de dois metros.

Nesse espírito, e também em Tókio, constrói Yashuhiro Yamashita, o principal arquiteto do Atelier Tekuto. Boa parte dos projetos de seu escritório são levantados em terrenos que rondam os 40 metros. Uma das residências, Reflection of mineral, construída no centro da capital, é um exercício de origami arquitetônico que consegue desdobrar-se em 80 metros, garagem incluída, sobre um terreno de apenas 44. O surpreendente resultado lembra à mescla entre brilhos e planos opacos dos minerais.

Nessa linha de romper plantas, preocupar-se com o centímetro quadrado e buscar luz e expressão num único gesto, os catalães Manuel Bailo (Igualada, 1965) e Rosa Rull (Tarragona, 1964) assinaram em Manresa o que descrevem como “um descascado na antiga parede da prefeitura”. Esse descascado poliédrico consegue, além de instalar uma nova escada e um elevador, converter essa subida num passeio panorâmico. A remodelação coloca, com um arranhão, a prefeitura na cidade do século XXI: sem ousadias desnecessárias e com surpreendente perspicácia. Chegam tempos de trabalhos pequenos. Talvez a arquitetura mascote convide a mimar os edifícios.

Um comentário:

  1. tinha que ser japonês prá reduzir o reduzido...

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