segunda-feira, 6 de abril de 2009

Atingindo a nota alta

Se Louis Armstrong estivesse vivo hoje, talvez enviasse uma nota ao deus da natação Micheal Phelps, dizendo, “Fala garoto, não liga pro que a imprensa diz. Não tem nada de mal uns tapinhas pra ajudar a relaxar. E você merece. O que você fez em Pequim deixou o velho Satchmo alucinado. Te convido pra dividir uma baga um dia desses. Continua remando, véio!”

Pode parecer estranho ver a Armstrong e Phelps como amigos. Apesar de terem nascido com uma diferença de oitenta e poucos anos, ambos trouxeram a glória ao seu país. Quando conquistaram suas façanhas – discos e medalhas – o povo delirou com seus feitos, louvando-as como insuperáveis em seus respectivos campos.

E então, no momento em que suas carreiras atingiam o topo, ambos se encontraram associados ao consumo de maconha.

O flagrante de Armstrong em 1931, do lado de fora do Cotton Club no Harlem, o levou a passar nove dias atrás das grades. Quando solto, era ainda mais popular que nunca. Nenhum tipo de desculpas públicas eram exigidas, ou dadas. Naturalmente, como a imprensa era muito mais lenta na época, muitos nem ficaram sabendo da história.

Louis não parou de fumar maconha, elogiando-a em canções ao longo de sua vida, e ainda fundando The Vipers, um grupo de músicos que defendiam a erva.

“Sempre consideramos a erva como um tipo de medicina, um leve entorpecimento que é muito melhor do que o provocado pela bebida” escreveu Armstrong. “Porém com as penalidades que surgiram, algumas vezes tive que largar, mas o respeito por ela seguirá comigo para sempre. Tenho toda a razão do mundo para dizê-lo e estou muito orgulhoso disso.

O flagrante de Phelps, como todas as gafes modernas, estava em todas as partes em um instante. Sua foto com o bong cobriu a web (o próprio bong apareceu momentaneamente no eBay, até o site removê-lo). Ele foi suspendido temporalmente das competições oficiais pela confederação americana de natação. Perdeu um de seus patrocinadores e foi forçado a mostrar seu arrependimento pelo “comportamento deplorável”.

Obviamente podemos esperar um comportamento diferente de um músico de jazz e de um atleta olímpico, mas, pelo que ambos nos presentearam em termos de apreciação, inspiração e alegria para o país, não mereciam um pequeno descanso?

Fazer parte da elite de qualquer profissão – seja músico, nadador ou CEO de uma multinacional – vem acompanhado de muito stress. Quando todo mundo espera que você sopre 250 dós maiores em uma música, ou que bata o Record mundial cada vez que entra na água, isso cobra um preço de seu corpo e de sua mente. O que há de errado com um baseado para ajudar a tranqüilizar-se?

Uma mostra aleatória qualquer elite demonstra que Satch e Phelps estão em boa companhia. Mozart comia bombons de cannabis. Abe Lincoln amava “fumar um cachimbo da doce maria”. Duke Ellington e Count Basie viajaram com baseados. Kerouac, Dumas d Dali também. Ray Charles, Keith Richards, Paul McCartney – todos maconheiros. E não é preciso nem ficar buscando no reggae. Até o novo presidente dos EUA fumou. Repetidamente. Como ele mesmo disse, “That was the point”.

Mas a America, cujo coração bivalve bombeia puritanismo e progressismo em medidas iguais, ainda se sente ultrajada pela marijuana. A America quer a gloria trazida por seus heróis, mas também os quer em pacotes adequados e respeitosos das leis.

E, me desculpem, mas essa lei em particular é algo idiota.

Enquanto a legalização talvez não ocorra nunca (uma vergonha, pois um imposto sobre maconha poderia favorecer um estímulo econômico tão necessário), ao menos nós podemos ser mais tolerantes com nossos heróis quando eles dão um tapinha de vez em quando.

Bill DeMain – Publicado 02/04/2009 na Mojo Magazine Online

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