quarta-feira, 28 de abril de 2010

Howlin’ Wolf – Moaning At Moonlight (1959) / Howlin’ Wolf (The Rockin’ Chair Album) (1962)



Os dois primeiros discos gravados por Howlin’ Wolf são genuínas pérolas. Ambos são compilações de seus singles gravados entre 1951 e 1962 e sem dúvida a base de todo o sucesso posterior que o lobo chegaria a conquistar, além de evidentemente marcos no desenvolvimento do blues elétrico de Chicago. Muitas dessas músicas converteram-se em êxitos posteriormente, ao serem “descobertas” e regravadas pelos Rolling Stones, Eric Clapton, The Doors, etc, mas nenhuma conseguiu igualar a intensidade e a escuridão das originais.

Moaning At Moonlight

01. Moanin' at Midnight
02. How Many More Years
03. Smokestack Lightnin'
04. Baby, How Long
05. No Place To Go
06. All Night Boogie
07. Evil
08. I'm Leaving You
09. Moanin' For My Baby
10. I Asked For Water (She Gave Me Gasoline)
11. Forty-Four
12. Somebody in My Home

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Howlin’ Wolf (The Rockin’ Chair Album)

01. Shake For Me
02. The Red Rooster
03. You'll Be Mine
04. Who's Been Talkin'
05. Wang Dang Doodle
06. Little Baby
07. Spoonful
08. Going Down Slow
09. Down In The Bottom
10. Back Door Man
11. Howlin' For My Baby
12. Tell Me

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Howlin’ Wolf – Live And Cookin’ At Alice’s Revisited (1972)


De longe o melhor ao vivo de Wolf, já na etapa final de sua vida e depois de superar um bom número de ataques do coração sua voz segue forte e sua banda, a lendária Wolf Gang, é o melhor que você poderia encontrar na Chicago dos anos 70. Aqui ele não interpreta seus grandes clássicos, mas tampouco faz falta. A banda formada por Hubert Sumlin na guitarra, Eddie Shaw no sax – que se completam perfeitamente – Sunnyland Slim no piano e Fred Below na bateria levando o groove, L.V. Williams na guitarra base e Dave Myers no baixo, é sem dúvida uma das melhores – senão a melhor – banda de blues rock que já existiram, e isso você percebe melhor que nunca ao vivo. Esse disco foi lançado em 1972 com oito faixas, sendo relançado em cd com duas excelentes faixas extras.

01. When I Laid Down I Was Troubled
02. I Didn't Know
03. Mean Mistreater
04. I Had A Dream
05. Call Me The Wolf
06. Don't Laugh At Me
07. Just Passing By
08. Sitting On Top Of The World
09. Big House, The - (previously unreleased)
10. Mr. Airplane Man - (previously unreleased)

http://www.zshare.net/download/754538823ac8c496/

Howlin’ Wolf – The Real Folk Blues (1966)

Acompanhado por uma banda de blues de Chicago com o incrível Hubert Sumlin na guitarra, Wolf gravou essas faixas entre 1956 e 1966, todas suas com exceção de “Three Hundred Pounds Of Joy”, “Built For Comfort” e “Oh Baby” escritas sob medida por Willie Dixon. Seria essa a invenção do blues rock?

01. Killing Floor
02. Louise
03. Poor Boy
04. Sittin' On Top of the World
05. Nature
06. My Country Sugar Mama
07. Tail Dragger
08. Three Hundred Pounds of Joy
09. Natchez Burnin'
10. Built For Comfort
11. Oh Baby
12. Hold Me
13. Tell Me What I've Done

http://www.zshare.net/download/754525255300cba7/

Howlin’ Wolf – The London Howlin’ Wolf Sessions (1971)


O que acontece se você juntar Eric Clapton na guitarra, Bill Wyman e Charlie Watts dos Stones fazendo a base rítmica e Steve Winwood nos teclados, e deixá-los tocar com seu ídolo Howlin’ Wolf? No mímino um disco de blues do caralho. Clapton debulha no slide guitar em “Rockin’ Daddy”, e até Ringo Starr quer uma boquinha tocando a bateria em “I Ain’t Superstitious”, todos acompanhados pela voz única de Wolf. Como o próprio Wolf disse: “The kids can play”.

01. Rockin' Daddy
02. I Ain't Superstitious
03. Sittin' On Top of the World
04. Worried About My Baby
05. What A Woman
06. Poor Boy
07. Built For Comfort
08. Who's Been Talking?
09. The Red Rooster (with false start and dialog)
10. Do The Do
11. Highway 49
12. Wang Dang Doodle

Obs.: Fui "notificado" que disponibilizando esse disco estaria infringindo a lei de copyrights de acordo com os termos da DMCA (Digital Millennium Copyright Act). Para nao ter qualquer tipo de problema, retirei o link, mas saibam que em qualquer web de torrent vocês podem baixá-lo sem problema. O engraçado é que dos outros trocentos links que eu disponibilizo nessa mesma página eles nao falam nada...

Grandes Nomes do Blues 26 – Howlin’ Wolf


Chester Arthur Burnett (em homenagem ao 21º presidente dos EUA) nasceu em White Station, Mississippi, e ainda jovem teve a Charley Patton como maior inspiração. Foi o mesmo Patton quem lhe ensinou a tocar a guitarra e alguns truques de como se portar no palco, coisa que não esqueceria jamais ao longo de sua carreira. Aprendeu a tocar a gaita com Sonny Boy Williamson II, que morou com sua irmã por um tempo, e durante os anos trinta já tocava pelo Sul do país. Aos 30 anos foi chamado para o exército, sendo liberado dois anos mais tarde, no meio da Segunda Guerra, sem nem mesmo ser enviado para fora do país, por sua inadaptação à vida militar. Até os quarenta anos não foi mais que um músico amador que tocava nos finais de semana na fazenda de West Memphis, aonde trabalhava. Em 1948 formou uma banda com os guitarristas Willie Johnson e Matt “Guitar” Murphy, o gaitista Junior Parker, um pianista lembrado apenas como “Destruction” e o baterista Willie Steele, e foi então que sua guitarra elétrica começou a ser reconhecida, sendo assim contratado por Sam Philips em 1951, quem vendeu seu material tanto à Chess como à Modern Records. Chess ganhou o duelo e se converteu no selo que publicaria todo o trabalho de Wolf até sua morte. Chegando a Chicago, Wolf rapidamente virou uma celebridade local e gravou seus primeiros sucessos “How Many More Years”, “Moanin’ at Midnight”, “Smokestack Lightning” e “I Asked For Water (She Gave Me Gasoline)”. Em 1959 grava o seu primeiro disco, “Moanin’ in the Moonlight”, uma compilação de faixas previamente gravadas.
No final dos anos sessenta sua saúde começa a falhar com vários ataques cardíacos e em 1970 sofre um acidente de carro aonde fere gravemente os rins. Morre em 1976 após inúmeras complicações e foi enterrado no cemitério de Oak Ridge em Cook County, Illinois, baixo uma grande lápide supostamente comprada por Eric Clapton aonde se vêem uma guitarra e uma gaita.
Por sua intensidade e seus grunhidos, a voz de Wolf se converteria em uma das melhores do blues de todos os tempos e sua personalidade conseguia deixar o público fora de si. Foi uma figura determinante para o blues de Chicago e sua musica influenciou desde o rockabilly dos anos cinqüenta e o rock dos anos sessenta até o grunge dos anos noventa e as novas bandas de punk-blues.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Willie Dixon – The Chess Box (1988)


Não costumo postar nenhuma compilação nesse blog, como vocês bem sabem, mas dessa vez não dá pra deixar de fazê-lo. São as músicas compostas por Dixon na voz dos seus intérpretes originais e na dele mesma. Clássicos do blues e dos primórdios do rock & roll, aqui você encontra Howlin’ Wolf cantando “Spoonful”, “Little Red Rooster” e “Back Door Man”, Muddy Waters cantando “You Shook Me”, “Evil” e “I`m Ready”, Bo Diddley cantando “You Can’t Judge a Book by its Cover” ou Koko Taylor começando sua carreira com “Wang Dang Doodle”. Uma visão mais ampla da importância de Dixon para o Blues de Chicago e na criação de alguns dos maiores clássicos do gênero.

CD1
01. Little Walter – My Babe
02. The Big Three – Violent Love
03. Eddie Boyd – Third Degree
04. Willie Mabon – Seventh Son
05. Willie Dixon – Crazy for my Baby
06. Willie Dixon – Pain in my Heart
07. Willie Dixon – Hoochie Coochie Man
08. Muddy Waters – Evil
09. Howlin’ Wolf – Mellow Down Easy
10. Little Walter – When The Lights Go Out
11. Muddy Waters – Young Fashioned Ways
12. Bo Diddley – Pretty Thing
13. Muddy Waters – I’m Ready
14. Lowell Fusion – Do Me Right
15. Muddy Waters – I Just Want To Make Love To You
16 . Lowell Fusion – Tollin’ Bells
17. Willie Dixon – 29 Ways
18. Willie Dixon – Walkin’ The Blues

CD2
01. Howlin’ Wolf – Spoonful
02. Otis Rush – You Know My Love
03. Bo Diddley – You Can’t Judge a Book by its Cover
04. Howlin’ Wolf – I Ain’t Superstitious
05. Muddy Waters – You Need Love
06. Howlin’ Wolf – The Red Rooster
07. Howlin’ Wolf – Back Door Man
08. Little Walter – Dead Presidents
09. Howlin’ Wolf – Hidden Charms
10. Muddy Waters – You Shook Me
11. Sonny Boy Williamson – Bring It On Home
12. Howlin’ Wolf – 300 Pounds Of Joy
13. Willie Dixon – Weak Brain, Narrow Mind
14. Koko Taylor – Wang Dang Doodle
15. Muddy Waters – The Same Thing
16. Howlin’ Wolf – Built For Confort
17. Little Milton – I Can’t Quit You Baby
18. Koko Taylor – Insane Asylum

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Willie Dixon – I Am The Blues (1970)


Nesse disco, talvez o melhor dele sob o seu próprio nome, Dixon versiona nove de suas músicas que haviam sido gravadas anteriormente por outros artistas. São todos clássicos, não escapa um. É uma oportunidade de ouvir a esses clássicos na voz do seu autor, que faz um magnífico trabalho, diga-se de passagem, e entender como ele gostaria que elas soassem.

01. Back Door Man
02. I Can’t Quit You Baby
03. The Seventh Son
04. Spoonful
05. I Ain’t Superstitious
06. You Shook Me
07. I’m Your Hoochie Coochie Man
08. The Little Red Rooster
09. The Same Thing

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Willie Dixon – Hidden Charms (1988)


Álbum ganhador do Grammy de 1988, também bastante reflexivo e num tom mais grave. Atualmente bastante difícil de encontrar, não percam essa oportunidade. Willie Dixon nos vocais, Lafayette Leake no piano, Earl Palmer na bateria, Sugar blue na gaita, Red Callender no baixo e Cash McCall e T Bone Burnett nas guitarras.

01. Blues You Can’t Loose
02. I Don’t Trust Myself
03. Jungle Swing
04. Don’t Mess With The Messer
05. Study War No More
06. I Love The Life I Live
07. I Cry For You
08. Good Advice
09. I Do The Job

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Willie Dixon – What Happened to my Blues (1976)


Nominado para um Grammy, um disco mais reflexivo e lento que lembra bastante suas primeiras composições. Dixon toca o baixo e canta, acompanhado de Carey Bell na gaita, Lafayette Leake no piano, Dennis Miller e Buster Benton nas Guitarras e Clifton James na bateria.
01. Moon Cattin'
02. What Happened To My Blues
03. Pretty Baby
04. Got To Love You Baby
05. Shakin' The Shack
06. Hold Me Babe
07. It's Easy to Love
08. Uh Huh Baby
09. Put It All in There
10. Hey Hey Pretty Mama

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Grandes Nomes do Blues 25 – Willie Dixon


Willie James Dixon nasceu em Vicksburg, Mississippi, no 1º de julho de 1915. Aos 7 anos já era um grande admirador do blues, aprendeu a tocar a gaita ainda adolescente, começou a tocar o baixo no quarteto gospel The Jubilee Singers, e ainda escrevia músicas, vendendo algumas a grupos locais. Em 1936 mudou-se a Chicago, aonde, pelo seu tamanho, começou a buscar a vida como lutador de boxe e acabou ganhando o titulo do campeonato de Illinois em 1937. Converteu-se em boxeador profissional e chegou a servir brevemente como sparring do grande Joe Louis. Depois de quatro lutas, Dixon deixou o boxe ao descobrir que seu representante o roubava. Na academia de boxe que freqüentava acabou conhecendo a Leonard “Baby Boo” Caston, quem o convenceu a voltar seriamente à música tocando com ele e com os Five Breezes, grupo que mesclava jazz, blues e harmonias vocais. Sua carreira foi interrompida ao se negar em ir à guerra e ser preso por 10 meses. Depois da guerra formou o grupo Four Jumps of Jive até reunir-se com Caston, formando o Big Three Trio e gravando por primeira vez para a Columbia Records. Assinou um contrato com a Chess Records e progressivamente foi envolvendo-se com a companhia e sobre 1951 já trabalhava em período integral como produtor, escritor, músico e caça-talentos. Ficou na Chess até o começo dos anos 60 e é até hoje considerado uma figura chave na criação do blues de Chicago e do nascimento do rock & roll, trabalhando com Chuck Berry, Muddy Waters, Howlin’ Wolf, Otis Rush, Bo Diddley, Little Walter, Sonny Boy Williamson, Koko Taylor, Memphis Slim, Buddy Guy, entre outros. É principalmente relembrado como um grande escritor de alguns dos maiores blues da historia, como “Little Red Rooster”, que chegou ao número um na Inglaterra versionada pelos Rolling Stones. Em seus últimos anos fundou a Blues Heaven Foundation, uma organização para preservar o blues e assegurar os copyrights e royalties dos músicos de blues tão explorados no passado. “O Blues é a raiz e as outras músicas são os frutos. Mantendo as raízes vivas teremos melhores frutos.” Em 1980 entrou para o Blues Hall of Fame e em 1989 ganhou um Grammy por seu disco “Hidden Charms”. Morreu do coração no dia 29 de janeiro de 1992, entrando postumamente ao Rock and Roll Hall of Fame em 1994.
Como superar o estranho caso da crítica/Jeckyll e da análise/Hyde...?
Àngel Quintana

Quando falamos de crítica literária dificilmente estabelecemos uma diferença entre a crítica jornalística e a crítica universitária. O crítico que publica artigos em jornais ou em revistas especializadas tem uma autoridade respaldada por seus hipotéticos estudos e leituras que o fazem conhecedor da matéria, suas reflexões estão apoiadas numa base teórica cuja origem é muitas vezes acadêmica e sua escrita costuma ser solvente. É comum que esse mesmo crítico dê aulas de literatura numa universidade, que publique um ensaio de análise sobre as obras de determinado autor e que una sua paixão pela atualidade com o desejo permanente de releituras dos clássicos. Em 1970, por exemplo, Roland Barthes publicou S/Z, um dos textos modelo sobre a análise de uma obra literária: Sarrazine, de Balzac. No mesmo ano publicou outros textos sobre literatura, semiótica e cultura de massas em revistas acadêmicas como Tel Quel ou em órgãos de divulgação literária como La Gazette Littéraire. Na medida em que avançava em sua reflexão sobre a literatura, Barthes não deixou de mesclar sua vocação científica com sua vocação poética, chegando a autênticos paradoxos como o implícito em La chambre claire, um texto teórico sobre a fotografia que é também uma reflexão sobre a morte de sua mãe. A pluridisciplinariedade e o desejo de expandir a crítica a diferentes direções e registros converteram Roland Barthes no paradigma do crítico moderno.
No âmbito da crítica cinematográfica as coisas são mais complicadas do que na literatura. A tradição moderna da crítica no cinema não surgiu da academia, mas sim da cinefilia, um modelo cultural autodidata. Alguns anos atrás, durante uma palestra, o sociólogo Edgar Morin lembrava que, quando escreveu Le cinéma ou l'homme imaginaire (1956), sua obra era uma autêntica rara avis no âmbito cultural. Morin era sociólogo, estava na universidade e sua pesquisa sobre o espectador chocava contra os modelos acadêmicos. O cinema era um espaço autodidata, o qual sentia uma estranha admiração pelo “bando dos quatro” da Cahiers du cinéma (Truffaut, Rohmer, Rivette, Chabrol e Godard), já que sua cultura não era sistemática e esse fator lhes proporcionava uma enorme liberdade. O ato de devorar os clássicos na Cinemathéque lhes permitia conhecer o cinema, enquanto sua formação intelectual oferecia interessantes desvios à literatura ou à arte.
Essa liberdade autodidata foi fundamental para a consolidação da escrita cinematográfica como prática crítica moderna, porem também é verdade que em muitos aspectos o excesso de cinefilia foi a origem de muitos males. A cinefilia provocou que maus críticos erijam-se como escritores viscerais seguros de seu gosto próprio. Dificilmente poderá sair algum pensamento do trabalho desses autores aos que Oscar Wilde já batizou como membros de um absurdo tribunal do gosto. Como na crítica literária ou artística, na crítica cinematográfica também existem maus críticos. A única diferença é que alguns desses maus críticos ocupam espaço nos grandes meios de comunicação. Ainda assim, o descrédito de determinada crítica jornalística não tem nada a ver com o debate que nos ocupa, centrado em demonstrar como a prática crítica pode ser um exercício intelectual tão válido como a prática analítica acadêmica ou como a pesquisa historiográfica baseada em metodologias rígidas. O suposto estranho caso da crítica/Jeckyll e da análise/Hyde pode ser superado.
Um dos sinais da modernidade na crítica cinematográfica é a negação de uma visão sistemática do meio. A reflexão teórica mais importante sobre o cinema não é um corpus sistemático. André Bazin não escreveu O que é o cinema? partindo de uma prática metodológica forte, apesar de sua formação estar marcada pelo peso da fenomenologia e de que sua própria visão cultural do mundo e da arte eram amplias. O mais importante da escritura de Bazin se escora em sua fragmentação. Diferentemente de outras disciplinas, o cinema não precisou de um grande tratado que reúna todo o seu saber. Sua teoria foi desenvolvida a partir de peças fragmentadas. Uma série de textos curtos elaborados como críticas dos filmes que estavam em cartaz foram a base das grandes reflexões sobre a ontologia do cinema, sobre sua relação com outras artes e sobre a reprodução do real. O livro de André Bazin é uma recopilação de textos, muitos dos quais escritos entre 1954 e 1956 – mesma época em que Roland Barthes escreveu também suas Mitologias , outra coleção fragmentada de textos de natureza jornalística que estabeleceram as bases para o estudo dos sinais de linguagem na sociedade de massas. As conexões entre ambas as obras não são casuais, já que as duas anunciaram que o moderno discurso jornalístico pode esconder as bases de um forte discurso teórico.
Nos meios acadêmicos foi estabelecida uma clara diferenciação entre os pesquisadores e os divulgadores. Ao longo do curso escolar de 2008-2009, a universidade francesa entrou em greve porque o governo Sarkozy quer estabelecer uma diferenciação entre pesquisadores e professores. O primeiro grupo estaria formado por membros de reconhecidos grupos de pesquisa que publiquem em revistas especializadas de alto interesse acadêmico e cujos trabalhos – independentemente de sua validez – sejam objeto de citação. Os segundos seriam os responsáveis de divulgar o saber em classe e nos meios de comunicação. A situação francesa não é mais que o espelho de uma situação bastante generalizada que, desde a universidade, explode com força no mundo da cultura. A hiperespecialização tem o perigo de converter o analista, o pesquisador ou o historiador numa pessoa fechada nos seus próprios círculos, afastada da realidade e despida de todo seu espírito crítico. Por outro lado a divulgação é vista como um exercício de segunda divisão, como um ato desacreditado. Alguns anos atrás, no sugestivo livro titulado Universidade sem condição, Jacques Derrida anunciava que entre a Universidade da excelência e a Universidade da divulgação não havia espaço para o espírito crítico. Derrida considerava que esse espírito crítico era realmente o sentido que a universidade deveria exercer ante o conformismo imperante nos tempos atuais. No âmbito dos estudos cinematográficos, que, apesar de estarem implantados na universidade, não são assimilados pelos tribunais de excelência, a divisão entre analistas/historiadores e críticos/pau pra toda obra, supõe na verdade a aceitação dessas perversas regras do jogo.
O mundo dos estudos sobre cinema não deve funcionar a partir de altares separados nos quais as poucas pessoas que trabalham no meio portem brilhantes etiquetas metodológicas como símbolo de um suposto rigor. No âmbito universitário, o cinema deve ser visto de maneira multiforme, desde uma clara vocação heterofundada e como um espaço de intercambio constante entre diferentes correntes de reflexão. A crítica jornalística também pode ser exercida desde a universidade e não deve ser vista como a prima pobre da análise e da historiografia. O pensamento sobre o presente do cinema só pode ser edificado sobre o pensamento do passado, e a intervenção pausada – baseada na reflexão e na análise fílmica – deve ser complementada com a reflexão impressionista baseada na intuição. O conhecimento deve ser marcadamente crítico e a crítica deve ser um autêntico exercício de consciência sobre o futuro do meio. A crítica mais proveitosa e fértil não surge de mundos fechados que buscam a esterilidade da excelência, mas sim do ativismo que comporta a divulgação do conhecimento. Felizmente, o significado da palavra crítica é polissêmico.

Kitty, Daisy & Lewis – Kitty, Daisy & Lewis (2008)


Conheci essa fantástica banda através de uma grande amiga que está vivendo agora em NY – valeu Bibi! – e não hesito em dizer que foi uma das melhores descobertas do ano passado. No mês passado eles vieram tocar na Espanha e não perdi a oportunidade de vê-los. Qual não foi minha surpresa em descobrir que são ainda melhores ao vivo que no cd. A banda composta pelos três irmãos Durham, que dão nome à mesma, tocaram acompanhados por sua mãe, Ingrid Weiss, no contrabaixo, e pelo seu pai, Graeme Durham, na guitarra, e todos os outros instrumentos, entre eles guitarra, piano, bateria, banjo, gaita, ukulele, xilofone e acordeão, são tocados alternadamente pelos três. E a surpresa não para por aí, a mais nova, Kitty, tem 17 anos, seguida de seu irmão Lewis com 19 e a irmã mais velha Daisy com 21. Os três multiinstrumentistas versionam velhos clássicos do blues, country, rock, swing, RB e música havaiana, e não gastam nenhuma forma digital para gravar suas musicas, nem mesmo um computador. É tudo gravado em equipamentos dos anos 40 e 50 que o pai, que trabalhava num dos maiores estúdios de gravação de Londres, garimpou ao longo de sua carreira para construir seu estúdio particular em casa. No momento, além de estarem dando shows por toda Europa, estão gravando o novo disco. É esperar para ouvir. Enquanto isso os deixo aqui com seu primeiro e único disco até agora.

01. Going Up The Country
02. Buggin’ Blues
03. Polly Put The Kettle On
04. Honolulu Rock-A-Roll-A
05. I Got My Mojo Workin’
06. Mean Son of a Gun
07. Hillbily Music
08. Mohair Sam
09. Ooo Wee
10. Swinging Hawaii

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De volta...

Depois de um longo período trabalhando nos campos de algodão, voltei, queridos leitores – se é que ainda há algum por ai. Peço minhas sinceras desculpas por abandoná-los dessa maneira tão dura e sem piedade, sem dar explicações ou nem mesmo deixar meu celular para que num momento de extrema saudade uma ligação bastasse para aplacar a pungente dor que destroça vossos âmagos. Fui um canalha, concordo, mas dêem-me ao menos uma chance de retratar-me, prometo que não falharei. E como velho malandro, tampouco prometo que isso será para sempre, que não venha a sumir outra vez ao longo dessa sinuosa vida, mas, como já disse uma vez um grande homem que suponho que todos vocês conhecem, que seja infinito enquanto dure. Antes de mais nada fiz uma revisão completa nos links das postagens antigas porque alguns nao estavam bem, e agora vocês podem baixar tudo o que já foi colocado nesse site sem nenhum problema. Retomarei quase todos os temas que tinha deixado atrás, a série Grandes Nomes do Blues, debates sobre a crítica de cinema e mais música, e espero que seja do agrado de todos. Na verdade, não sei se alguém algum dia chegará a ler essas palavras, mas me alegra pensar que sim, e se esse alguém é você, obrigado.