quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Grandes Nomes do Blues - Introdução

Começo aqui uma série de posts aonde tentarei fazer um apanhado geral sobre grandes nomes desse gênero fundamental para a música popular atual – considerando como música popular tudo o que não é música clássica – e expor algumas respostas sobre como essa música aparentemente tão simples chegou a ser rotundamente influente e capaz de transmitir emoções e condições acima de preceitos sociais, culturais e educativos. Desde suas raízes afro-americanas (assim como o samba, que eu não me engano em defini-lo como o nosso blues, mas isso já é tema para outro post) o blues transcendeu culturas, fronteiras e estilos.

A evolução da musica popular nos últimos séculos foi extensa e variada, com a introdução de novos instrumentos, novas técnicas, estruturas melódicas rebuscadas e da tecnologia disponível, porem é possível encontrar a origem da maior parte da musica popular ocidental no mais simples dos estilos, o blues. Tem sua origem no final do século XIX durante as intermináveis horas de trabalho dos escravos negros do sul dos EUA. Por volta de 1900 o gênero já derivara a estrofes de três versos acompanhados de um vocal marcantemente influenciado pelos cantos de trabalho, conhecidos como “pergunta e resposta”, aonde o líder cantava um verso e os demais respondiam. Posteriormente os primeiros guitarristas foram desenvolvendo o estilo cantando o verso e recebendo a resposta da guitarra. A conservação dos timbres, tons e ritmos africanos e a funcionalidade musical intrínseca ao dia a dia de pessoas não necessariamente músicos profissionais, interagiu com a tradição musical européia das toadas de violino irlandesas e escocesas, dos hinos religiosos e das marchas militares. Os escravos com talento musical aprenderam a entreter aos brancos nas festas e bailes das plantações interpretando canções populares da época. Se os cantos de trabalho e os gritos (“hollers”) remetiam à sua ancestralidade africana, os salmos da igreja protestante foram contagiando-se desse caráter afro-americano até chegar ao gospel.

Depois da Guerra Civil norte americana, os músicos itinerantes estenderam sua musica pelo território, principalmente nos povos e cidades as margens dos rios Mississipi e Ohio. Os repertórios eram variados, atravessaram fronteiras e a febre do ragtime assolou os EUA desde 1890 até a Primeira Guerra Mundial, assentando as bases da fascinação pela musica secular afro-americana num país com desejo de libertar-se da moral vitoriana (porém com os negros ainda descriminados e oprimidos). O blues brotou de muitas fontes para dar voz à identidade afro-americana e para contestar as leis da era Jim Crow que decretavam restrições aos seus direitos. Musicas sobre o amor perdido ou desilusões tinham geralmente outra conotação: eram protestas encobertas ou comentários secretamente dirigidos ao amo branco e sua ordem social. O duplo sentido e as metáforas sexuais abundaram, e quando o blues herdou o lado vulgar do ragtime passou a ser considerado vulgar e de reputação duvidosa, rotulado pelos ortodoxos religiosos como “musica do demônio” tocada no ninho da tentação. Talvez o blues tenha nascido da dor e do esforço, e talvez tenha sido marginalizado socialmente, mas não se atracou no pesar e na miséria e animou os espíritos numa catarse de liberação, geralmente com humor e ironia, para desprender-se do blues como preocupação, e cantá-lo.

O blues se assentou no Mississipi, Texas, Georgia, Louisiana, Missouri, nas duas Carolinas e em diversos estados do sul. Posteriormente, ondas migratórias ao norte estabeleceram Chicago como a capital do blues – mesmo que anteriormente St. Louis e Memphis já eram centros urbanos de blues importantes. No sistema de plantações de algodão do Delta do Mississipi floresceu uma sub-cultura do blues altamente concentrada e prolífica a partir do momento em que os trabalhadores podiam desfrutar do fim de semana. Em 1912 o estilo deu um salto enorme na consciência pública americana quando Baby Seals, Hart Wand e W.C. Handy (1873-1958) converteram-se nos primeiros compositores a publicar partituras de blues, ou pelo menos registrar peças de blues em uma agencia de direitos autorais.
Não vou me adentrar mais nos meandros dessa historia amplamente comentada. A partir de agora começo essa série de posts aos quais estarei dedicado até o momento em que sinta haver coberto uma aceitável gama de expoentes dessa musica que tanto admiro. Espero que seja do agrado de todos.

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