sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Grandes Nomes do Blues 34 – Dr. John


Malcom John “Mac” Rebennack Junior, conhecido como “Dr. John The Nnight Tripper”, nasceu em New Orleans em Novembro de 1940 e ainda adolescente já cantava e tocava o piano. Em pouco tempo atreveu-se a acompanhar na guitarra e nos teclados a grandes figuras locais, como Joe Tex ou Professor Longhair, e a produzir e fazer os arranjos dos estúdios Cosmio Studio – frequentados por Alain Toussaint – até editar alguns singles sob o pseudónimo de Mac Rabennack. Um inesperada ferida na mão o obrigou a deixar a guitarra e acabou mudando-se a Los Angeles nos anos sessenta.

Nos anos sessenta, quando começou a fusionar blues, jazz, R&B e rock, Rebennack acabou criando um fórmula que chamaria de “voodoo music”, estilou que se caracterizou por combinar a voz tosca de Dr. John com metais, blues intenso, funk ao estilo “Mardi Grass” e psicodelia elétrica. Seus shows ao vivo se converteram numa espécie de ritual músico-religioso, com todos os músicos – incluindo as banda de abertura – envoltos com roupas coloridas, plumas, peles e um cenário pra lá de exótico.

Essas apresentações eram uma mistura do autêntico vudu tradicional com o “hokum” de New Orleans e eram o complemento ideal para a música de Dr. John. Prova disso era “Walk On Gilded Splinters” e o próprio nome de seu primeiro disco de 1968, “Gris Gris” – recuperado de uma jam session esquecida de Sonny e Cher aonde ele mesmo havia colaborado. Esse e o próximo disco, Babylon (1969), tinham um grande simbolismo vudu e de crítica social, tanto que a música muitas vezes dificultava o entendimento das letras. Em quanto à harmonia, gostava do swing e da sensualidade, mas acima de tudo se baseava no reportório típico de New Orleans: jazz, cajún francês, criolo e R&B. A isso incluiria rapidamente o teclado eletrônico ao seu estilo, além de colocar à prova os demais guitarristas de sua geração com a sarcástico “Lonesome Guitar Strangler”. Sua filosofia musical foi tão inovadora que seus adeptos mais fiéis o adoravam como se pertencentes a um culto, e durante isso tudo Dr. John não hesitava em apoiar a outros músicos como Canned Heat, Jackie DeShannon, B.B. King, Buddy Guy, Albert Collins ou John Sebastian. Em seu disco de 1971, “The Sun, Moon &Herbs”, é acompanhado por Eric Clapton e Mick Jagger.

Em 1972, no espetacular “Dr. John’s Gumbo”, foram melhor acolhidos os temas clássicos de New Orleans – “Iko Iko” ou “Junko Partner” – interpretados com suas particulares fusões psicodélicas. Porém foi no ano seguinte que Dr. John arrasou com o mercado ao lançar “Right Place, Wrong Time”, música com colaboração com The Meters, a primeira banda de funk e soul de New Orleans. O público ficou vidrado pela voz cortada de Dr. John e por esse ritmo novo, o que impulsou as vendas e colocou a canção no topo das listas, fazendo desse o seu maior êxito.

Nos discos posteriores Dr. John tentou sem êxito repetir o sucesso, nem mesmo atrevendo-se com a onda “disco”. Apareceu também no espetáculo “Last Waltz” do grupo The Band, ainda que suas colaborações com Mike Bloomfield ou John Hammond tiveram pouco interesse. Finalmente, em 1981 voltou a disfrutar da fama graças a um disco aonde voltava ao formato puro do estilo de New Orleans. Uma vez quebradas as correntes do vudu ficam patentes os ensinamentos de Professor Longhair e de Huey “Piano” Smith.

Dr. John continuou experimentando, gravou clássicos do jazz e da música popular, aprofundou-se na história de New Orleans, reinterpretou a Duke Ellington e realizou uma série de retrospectivas de outros músicos. Porém, ainda que com boas respostas da crítica, esse seu lado mais inovador não convencia ao público em geral, e em 1990 se meteu de cabeça no jazz, formando o trio Bluesiana Triangle junto ao saxo de David “Fathead” Newman e ao grande baterista de bebop Art Blakey. Não contente, seguiu colaborando com bandas como Portishead, Squeeze, Primal Scream ou Supergrass, fãs incondicionais de seus primeiros discos. Em 2000 assinou contrato com a Blue Note Records e criou sua própria distribuidora, a Skinji Brim. Em 2001 seu disco “Creole Moon” foi bem recebido, e nele pode-se perceber suas experimentações e jogos entre os diferentes estilos musicais, como o jazz, o blues e o funk. Em 2005 editou um EP de quatro músicas em homenagem à sua amada New Orleans depois dos desastres do furação Katrina, “Sippiana Hericane”, e segue em ativo até os dias de hoje.

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