
De Robert Johnson conhecemos somente 29 músicas, duas fotografias e confusos retalhos de uma biografia que termina violentamente aos 27 anos. Sua mãe se chamava Julia Dodds e seu pai Noah Johnson e, em maio de 1911, em Hazelhurst, Mississippi, nascia Robert Leroy Johnson. Julia Dodds era mulher de um fazendeiro – Charles Dodds Jr.- que se viu obrigado a deixar o Mississippi antes de que Robert nascesse. Na ausência de Charles, Julia se uniu a Noah que, após mudar-se a Memphis, mudou seu nome para C.D. Spencer. Porém Julia casou-se novamente em 1916 com Willie Willis, e Robert cresceu com eles em Robinsonville, Mississippi, como Robert Spencer. Durante a adolescência, quando Robert descobriu a verdade sobre seu pai, mudou seu sobrenome para Johnson. Além de dominar a gaita, Johnson começou a sentir-se atraído pela guitarra, tanto que construiu um suporte aonde apoiava o primeiro instrumento, e com o segundo dava as respostas. Ainda em Robinsonville, Willie Brown e Charley Patton – que freqüentavam os locais de música da região – serviram-lhe de mestres.
Em fevereiro de 1929 Johnson casou-se com Virginia Travis Penton e o casal mudou-se para uma fazenda nas aforas de Robinsonville junto com sua irmã. Sem abandonar a música, Johnson trabalhou como lavrador e engravidou sua esposa. Sabe-se lá o que teria sido da vida de Johnson se Virginia, em abril de 1930, não tivesse morrido junto ao seu futuro filho ao dar a luz, com apenas 16 anos.
Semanas depois da fatalidade, Son House, depois de sua estréia discográfica para a Paramount em maio de 1930, chega a Robinsonville para trabalhar com Willie Brown. Robert ficou imediatamente encantado pela música de House, mesmo que o velho ainda o tratasse como um mero principiante. No entanto, antes que acabasse aquele ano, Johnson se muda a Hazelhurst convencido a dedicar-se por completo à música.
Seu próximo tutor sería Ike Zinnerman. A partir do trabalho dos dois pela região de Hazelhurst, aonde coincidiram com artistas como Johnny Temple ou Tommy Johnson, e da luta de Robert para ganhar a vida em esquinas, bares, fazendas, ou aonde pudesse ganhar algum dinheiro, um novo músico tinha nascido. Em pouco tempo, Johnson decidiu voltar à região do Delta do Mississippi e, ao chegar a Robinsonville, coincidiu novamente com Willie Brown e Son House, que ficaram maravilhados com a maneira que tocava. Assim nasceu a lenda de como Johnson teria vendido sua alma ao demônio em troca de sua habilidade com a guitarra. Zinnerman, em uma conversa com Son House, afirma que Johnson aprendeu a tocar o blues à meia-noite sobre uma tumba. Era como se alguém lhe houvesse presenteado com uma nova voz aguda e alterada por incríveis falsetes, e uma forma intuitiva de tocar a guitarra que faria escola; as cordas graves marcando um walking bass hipnótico e as outras adquirindo vida própria. Com o slide arrancava lamentos como ninguém antes havia feito. Keith Richards, guitarrista dos Rolling Stones, lembra-se da primeira vez que ouviu a um disco de Robert Johnson na casa de Brian Jones –“Quem é esse?”-“Robert Johnson”-“OK, mas... quem é o outro cara que toca com ele?”. Ele não podia acreditar que fosse um só guitarrista.
Para os conhecidos, a maneira como Johnson aprendeu a tocar não era nenhum mistério, era um caminho bastante conhecido no Delta e outros o haviam seguido antes. Tommy Johnson, outro músico da região, explica: “Para aprender a tocar tudo o que quiser e a compor sua própria música, você deve levar sua guitarra a um cruzamento pouco antes da meia-noite e começar a tocar algo de sua autoria. Um homem grande e negro irá até você, pegará sua guitarra, tocará sua música e te devolverá a guitarra. Dessa maneira aprendi tudo o que preciso para tocar”.
Johnson acaba por fim instalando-se em Helena, Arkansas, lugar que se converteria em seu acampamento-base durante o resto de sua vida. Com ou sem a ajuda do cornudo, em 1934 já se havia convertido num nômade, situação que lhe animaria a contratar varias mulheres para “atendê-lo” durante as viagens. “Para Johnson as mulheres eram como quartos de hotel; podia voltar à mesma, mas sempre a deixava no mesmo lugar em que estava”, disse uma vez Johnny Shines, um de seus companheiros de viagem.
Apesar de que sua reputação havia crescido tanto que era conhecido em todo o Mississippi e Tennessee, os discos ainda lhe resistiam. Até o dia em que se encontrou com H.C. Speir em Jackson, Mississippi. Speir era um caça-talentos da discográfica ARC e o recomendou imediatamente, decisão que culminaria em novembro de 1936, quando Johnson se trancou no estúdio improvisado no quarto um hotel em San Antonio, Texas, e gravou 16 músicas em uma semana. Em junho do ano seguinte, gravou mais 13 músicas em Dallas, Texas.
Essas 29 músicas representam todo o legado de Johnson. “Terraplane Blues” e “Kindhearted Woman Blues” foram as que mais venderam, mas ainda longe de serem grandes êxitos. No entanto, o LP que continha todo esse material – King of Delta Blues Singers – editado pela Columbia em 1961, inspiraria a toda uma geração de músicos de blues. E quando em 1990 se publicou a coletânea – The Complete Recordings – o mundo estava finalmente preparado para a genialidade de Johnson, convertendo o disco num êxito brutal.
Existem várias versões para a morte de Robert Johnson. Suicídio, magia negra... Son House escutou que uma mulher lhe havia envenenado. Johnny Shines se lembra de ter escutado que durante dias Johnson esteve correndo a quatro patas até que o diabo veio para levá-lo. A verdade só foi descoberta muitos anos depois, através de duas testemunhas presentes na sua morte. Em agosto de 1938, Johnson estava tocando num pequeno povoado chamado Three Forks, perto de Greenwood, num local cujo dono era marido de uma de suas amantes. Uma noite este lhe ofereceu bebida envenenada com estricnina. Pouco depois Johnson teve que deixar o local e ser levado para a cidade, aonde, depois de três dias agonizando, morreu na casa de um conhecido.
O diabo fez bem o seu trabalho, deu-lhe a fama e a imortalidade, mas de uma maneira na qual ele não pôde saborear e que deixou um rastro vago e impreciso de sua pessoa. Ainda hoje, em pequenos povoados do interior, pode-se ver a algum jovem que, numa noite de verão, leva sua guitarra a um cruzamento pouco antes da meia-noite. Quando isso acontece, os mais velhos olham com esse sorriso guardado aos predestinados, lhe deixam tocar e não dizem nada.
Baixe e escute a música amaldiçoada de Robert Johnson:
CD1
01 - Kindhearted Woman Blues
02 - Kindhearted Woman Blues (Alt Take)
03 - I Believe I'll Dust My Broom
04 - Sweet Home Chicago
05 - Rambling On My Mind
06 - Rambling On My Mind (Alt Take)
07 - When You Got A Good Friend
08 - When You Got A Good Friend (Alt Take)
09 - Come on in My Kitchen
10 - Come on in My Kitchen (Alt Take)
11 - Terraplane Blues
12 - Phonograph Blues
13 - Phonograph Blues (Alt Take)
14 - 32-20 Blues
15 - They're Red Hot
16 - Dead Shrimp Blues
17 - Crossroad Blues
18 - Crossroad Blues (Alt Take)
19 - Walking Blues
20 - Last Fair Deal Gone Down
CD2
01 - Preaching Blues
02 - If I Had Possesion Over Judgment Day
03 - Stones In My Passway
04 - I'm A Steady Rollin' Man
05 - From Four Till Late
06 - Hell Hound On My Trail
07 - Little Queen Of Spades
08 - Little Queen Of Spades (Alt Take)
09 - Malted Milk
10 - Drunken Hearted Man
11 - Drunken Hearted Man (Alt Take)
12 - Me And The Devil Blues
13 - Me And The Devil Blues (Alt Take)
14 - Stop Breakin' Down Blues
15 - Stop Breakin' Down Blues (Alt Take)
16 - Traveling Riverside Blues
17 - Honeymoon Blues
18 - Love In Vain Blues
19 - Love In Vain Blues (Alt Take)
20 - Milkcow Calf Blues
21 - Milkcow Calf Blues (Alt Take)
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