sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Dr. John – Duke Elegant (2000)


Uma interpretação única de clássicos de Duke Ellington pelo mestre vudu. O arranjo de seu sexteto de New Orleans para “Mood Indigo” é fresco e relaxado, ele canta como ninguém “Do Nothing Til You Hear From Me” e enche de soul e funk “Caravan”, além de algumas obras mais obscuras do maestro, como “On The Wrong Side of the Railroad Tracks” ou “I’m Gonna Go Fishin’”. Um tributo a um dos maiores músicos norte-americanos, e, porque não, um dos maiores do mundo. The Duke estaria orgulhoso. Ouça:

01. On The Wrong Side Of The Railroad Tracks
02. I’m Gonna Go Fishin’
03. It Don’t Mean A Thing (If It Ain’t Got That Swing)
04. Perdido Street Blues
05. Don’t Get Around Much Anymore
06. Solitude
07. Satin Doll
08. Mood Indigo
09. Do Nothin’ Till You Hear From Me
10. Things Ain’t What They Used To Be
11. Caravan
12. The Flaming Sword

Dr. John – Creole Moon (2001)


O ritmo domina esse disco que atravessa os vários estilos que influenciaram a carreira de Dr. John. O funk de “Bruha Bembe” relembra o início de sua carreira com o mistério do Night Tripper, “You Swore” bebe do balanço de “Right Place, Wrong Time”, e as mais sofisticadas “Holdin’ Patern”, “Queen of Cold” e “Creole Moon” mostram quão extenso é seu terreno musical. Ainda encontramos quatro canções co-escritas com o falecido Doc Pomus, como a profunda “Imitation of Love”. Um disco aonde depois de uma década Dr. John volta a publicar material inédito, dando uma volta em nossas ideias de blues, funk e boogie woogie. Indispensável. Baixa e ouça:

01. You Swore
02. In The Name Of You
03. Food For Thot
04. Holdin’ Pattern
05. Bruha Bembe
06. Imitation of Love
07. Now That You Got Me
08. Creole Moon
09. Georgianna
10. Monkey and Baboon
11. Take What I CanGet
12. Queen of Cold
13. Litenin’
14. One 2AM Too Many

Dr. John – Dr. John’s Gumbo (1972)


Logo após gravar o disco de 1971 “The Sun, Moon & Herbs” com a participação de Mick Jagger e Eric Clapton, Dr. John encontra nesse magnífico Gumbo uma volta às suas raízes, através de doze clássicos de New Orleans de nomes como Professor Longhair, Huey Smith, Earl King ou Ray Charles – que ainda que não tenha nascido lá, morou e compôs no começo dos anos 50. Esse ótimo disco serve como convite aos que não conhecem New Orleans a pegar o próximo vôo direto pra lá. Um clássico.

01. Iko Iko
02. Blow Wind Blow
03. Big Chief
04. Somedoby Changed The Look
05. Mess Around
06. Let The Good Times Roll
07. Junko Partner
08. Stackalee
09. Tipitina
10. Those Lonely, Lonely Nights
11. Huey Smith Medley
12. Li’l Liza Jane

Dr. John – Going Back To New Orleans (1992)


Esse disco traça uma linha dentro da música da cidade, começando em meados do século 19 com Louis Moreau Gottschalk, um compositor clássico influenciado pelos cantos africanos e pelas danças dos escravos do Congo Square de New Orleans. Acompanhado por alguns dos músicos pioneiros da cidade, como Danny Barker, Pete Fountain ou os Neville Brothers, Dr. John dá nova vida ao trabalho de Jelly Roll Morton, Louis Armstrong, James Booker, Professor Longhair, Fats Domino, Smiley Lewis a Huey “Piano” Smith. Dos primórdios do jazz ao junkie blues, esse disco abrange a tudo, desde êxitos conhecidos como “Bassin Street Blues” ou “Careless Love”  - com magníficas linhas de piano – e a pérolas esquecidas como “I Thought I Heard Buddy Bolden Say” ou “How Come My Dog Don`t Bark”, e o melhor é que faz com que soem atemporais e vivas. Escutem a esse passeio pela história de New Orleans conduzido por Dr. John aqui:

01. Litanie Des Saints
02. Careless Love
03. My Indian Red
04. Milneburg Joy
05. I Thought I Heard Buddy Bolden Say
06. Basin Street Blues
07. Didn’t He Ramble
08. Do You Call That A Buddy
09. How Come My Dog Don’t Bark When You Come Around
10. Good Night, Irene
11. Fess Up
12. Since I Fell For You
13. I’ll Be Glad When You’re Dead, You Rascal You
14. Cabbage Head
15. Goin’ Home Tomorrow
16. Blue Monday
17. Scald Dog Medley – I Can’t Go On
18. Goin’ Back To New Orleans

Dr. John – Gris Gris (1968)


O mitológico personagem de Rebennack vem à tona nesse disco, Dr. John, the Night Tripper, um dos mais importantes embaixadores dos blues. É um clássico com pelo menos quatro faixas de culto: “Gris-Gris Gumbo Ya Ya”, “Mama Roux”, “Jump Sturdy” e “I Walk On Gilded Splinters”, cada uma com refrões pegadiços e estranhos efeitos sonoros, acompanhados pelo vocal cortado e os riffs de teclado do doutor e essa percussão Afro-Caribenha típica de New Orleans, criando esse novo ritmo batizado de “voodo music”. Dá pra sentir porquê.

01. Gris-Gris Gumbo Ya Ya
02. Danse Kalinda Ba Doom
03. Mama Roux
04. Danse Fambeaux
05. Croker Courtbullion
06. Jump Sturdy
07. I Walk On Guilded Splinters

Dr. John – In The Right Place (1973)


Começamos com The Meters (Leo Nocentelli, Arthur Neville, George Porter e Joseph Modeliste), esse funk que não deixa uma nota perdida ou uma batida fora de sincronia. A isso agregamos o multi-instrumentista e produtor Allen Toussaint, com seus impecáveis arranjos dos vocais e dos metais. Isso tudo coroado por sete temas originais de Rebennack e ainda quatro ótimas covers e temos esse discasso de 1973, que ainda hoje parece atual. Não só pelos hits “Right Place, Wrong Time” e “Such A Night”, mas também pela funkeira “Same Old, Same Old”, os insultos verbais de “Qualified” ou o soul de “Shoo Fly Marches On”. Uma bela peça de funk-soul de New Orleans do início dos anos 70. Ouça:

01. Right Place, Wrong Time
02. Same Old, Same Old
03. Just The Same
04. Qualified
05. Traveling Mood
06. Peace Brother, Peace
07. Life
08. Such A Night
09. Shoo Fly Marches On
10. I Been Hoodood
11. Cold Cold Cold

Grandes Nomes do Blues 34 – Dr. John


Malcom John “Mac” Rebennack Junior, conhecido como “Dr. John The Nnight Tripper”, nasceu em New Orleans em Novembro de 1940 e ainda adolescente já cantava e tocava o piano. Em pouco tempo atreveu-se a acompanhar na guitarra e nos teclados a grandes figuras locais, como Joe Tex ou Professor Longhair, e a produzir e fazer os arranjos dos estúdios Cosmio Studio – frequentados por Alain Toussaint – até editar alguns singles sob o pseudónimo de Mac Rabennack. Um inesperada ferida na mão o obrigou a deixar a guitarra e acabou mudando-se a Los Angeles nos anos sessenta.

Nos anos sessenta, quando começou a fusionar blues, jazz, R&B e rock, Rebennack acabou criando um fórmula que chamaria de “voodoo music”, estilou que se caracterizou por combinar a voz tosca de Dr. John com metais, blues intenso, funk ao estilo “Mardi Grass” e psicodelia elétrica. Seus shows ao vivo se converteram numa espécie de ritual músico-religioso, com todos os músicos – incluindo as banda de abertura – envoltos com roupas coloridas, plumas, peles e um cenário pra lá de exótico.

Essas apresentações eram uma mistura do autêntico vudu tradicional com o “hokum” de New Orleans e eram o complemento ideal para a música de Dr. John. Prova disso era “Walk On Gilded Splinters” e o próprio nome de seu primeiro disco de 1968, “Gris Gris” – recuperado de uma jam session esquecida de Sonny e Cher aonde ele mesmo havia colaborado. Esse e o próximo disco, Babylon (1969), tinham um grande simbolismo vudu e de crítica social, tanto que a música muitas vezes dificultava o entendimento das letras. Em quanto à harmonia, gostava do swing e da sensualidade, mas acima de tudo se baseava no reportório típico de New Orleans: jazz, cajún francês, criolo e R&B. A isso incluiria rapidamente o teclado eletrônico ao seu estilo, além de colocar à prova os demais guitarristas de sua geração com a sarcástico “Lonesome Guitar Strangler”. Sua filosofia musical foi tão inovadora que seus adeptos mais fiéis o adoravam como se pertencentes a um culto, e durante isso tudo Dr. John não hesitava em apoiar a outros músicos como Canned Heat, Jackie DeShannon, B.B. King, Buddy Guy, Albert Collins ou John Sebastian. Em seu disco de 1971, “The Sun, Moon &Herbs”, é acompanhado por Eric Clapton e Mick Jagger.

Em 1972, no espetacular “Dr. John’s Gumbo”, foram melhor acolhidos os temas clássicos de New Orleans – “Iko Iko” ou “Junko Partner” – interpretados com suas particulares fusões psicodélicas. Porém foi no ano seguinte que Dr. John arrasou com o mercado ao lançar “Right Place, Wrong Time”, música com colaboração com The Meters, a primeira banda de funk e soul de New Orleans. O público ficou vidrado pela voz cortada de Dr. John e por esse ritmo novo, o que impulsou as vendas e colocou a canção no topo das listas, fazendo desse o seu maior êxito.

Nos discos posteriores Dr. John tentou sem êxito repetir o sucesso, nem mesmo atrevendo-se com a onda “disco”. Apareceu também no espetáculo “Last Waltz” do grupo The Band, ainda que suas colaborações com Mike Bloomfield ou John Hammond tiveram pouco interesse. Finalmente, em 1981 voltou a disfrutar da fama graças a um disco aonde voltava ao formato puro do estilo de New Orleans. Uma vez quebradas as correntes do vudu ficam patentes os ensinamentos de Professor Longhair e de Huey “Piano” Smith.

Dr. John continuou experimentando, gravou clássicos do jazz e da música popular, aprofundou-se na história de New Orleans, reinterpretou a Duke Ellington e realizou uma série de retrospectivas de outros músicos. Porém, ainda que com boas respostas da crítica, esse seu lado mais inovador não convencia ao público em geral, e em 1990 se meteu de cabeça no jazz, formando o trio Bluesiana Triangle junto ao saxo de David “Fathead” Newman e ao grande baterista de bebop Art Blakey. Não contente, seguiu colaborando com bandas como Portishead, Squeeze, Primal Scream ou Supergrass, fãs incondicionais de seus primeiros discos. Em 2000 assinou contrato com a Blue Note Records e criou sua própria distribuidora, a Skinji Brim. Em 2001 seu disco “Creole Moon” foi bem recebido, e nele pode-se perceber suas experimentações e jogos entre os diferentes estilos musicais, como o jazz, o blues e o funk. Em 2005 editou um EP de quatro músicas em homenagem à sua amada New Orleans depois dos desastres do furação Katrina, “Sippiana Hericane”, e segue em ativo até os dias de hoje.